RESENHA: Inovação, ciência, tecnologia e gestão - a UFMG em perspectiva

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RAPINI, Márcia Siqueira; BARBOSA, Allan Claudius Queiroz (Organizadores). Inovação, ciência, tecnologia e gestão - a UFMG em perspectiva. CEDEPLAR, UFMG, Belo Horizonte, 2021.


O livro Inovação, Ciência, Tecnologia e Gestão A UFMG em perspectiva foi organizado pelos doutores Márcia Siqueira Rapini e Allan Claudius Queiroz Barbosa. Nele há uma tentativa de expor os esforços daqueles que tentam fazer pós-graduação com uma perspectiva inovadora, tentando também expor o percurso feito pela UFMG nos últimos anos para adequar-se à Lei 10.973/04), marco legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), a qual criou um ambiente institucional favorável [...] na política institucional da UFMG, que, entre outras orientações, destaca a inovação como ação transversal que permeia as atividades fundamentais e indissociáveis da Universidade (ensino, pesquisa e extensão) que envolvem novos processos, teorias, serviços e produtos, ou o seu melhoramento, e resultam em desenvolvimento social (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 29).

Partindo desse pressuposto legal, os autores debatem o conceito histórico de inovação, desde Schumpeter até o presente. Segundo os autores, para Schumpeter era a inovação considerada como a principal força econômica de mudança, com efeitos positivos nas organizações, tanto pelo aumento da lucratividade e redução de custos, seja pela participação de mercado, amplitude do seu domínio ou monopólio e redução do poder dos fornecedores (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 29). Embora o autor citado se referisse mais ao contexto gerencial das organizações, fica claro a importância da inovação em qualquer setor, órgão ou instituição. 

Em seguida, apontam outro pensador, Marquis, quem definiu três tipos de inovação: sistema complexo (amplo impacto, de longo prazo e difícil replicação), ruptura radical na tecnologia (rara, imprevisível e capaz de mudar o panorama de uma determinada indústria) e corriqueira (ocorre no dia a dia da organização de forma contínua) (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 29). Este já trata a questão da tecnológica radical para que uma empresa possa ter êxito dentro de um mercado tão competitivo. Seguindo esta linha de raciocínio, comentam também Abernathy e Utterback, os quais fizeram uma clara separação entre inovação evolutiva e radical.

 Tushman e Nadler definiram as inovações como incrementais (a adaptações e melhorias), sintéticas (criação e desenvolvimento de novidades a partir de melhorias de processos ou da combinação de ideias ou tecnologias existentes) e descontínuas (desenvolvimento ou aplicação de tecnologias ou novas ideias. Estes autores, também consideraram que inovações podem ser de produtos, serviços ou processos (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 29). Ou seja, cada vez a inovação vai abarcando setores diversos.

Os autores citam um autor que estende ainda mais o arcabouço ligado à inovação, pois Tidd sugere que o processo de inovação contempla as necessidades do mercado, estratégia de referência, desenvolvimento ou aquisição de soluções, preparação de protótipos, testes, produção e disponibilização de produtos e serviços novos ou melhorados ao mercado (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 30).

Mais recentemente, Wolfe observa que a abordagem sobre inovação possui quatro linhas principais: as que tratam dos estágios do processo inovador, dos contextos organizacionais, das perspectivas teóricas subjacentes e dos atributos da inovação. Na perspectiva estratégica, a inovação está associada à obtenção de vantagens competitivas sustentáveis, ao posicionamento competitivo, [...] à capacidade de inovação e à aprendizagem organizacional sendo elemento da ação e diferenciação das empresas (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 30). 

Por fim, abordam a versão de 2005 do Manual de Oslo, o qual, para os autores, trata a inovação como a introdução de um bem ou serviço novo ou significativamente melhorado no que concerne a suas características ou usos previstos, o que inclui melhoramentos significativos em especificações técnicas, componentes e materiais, softwares incorporados, facilidade de uso ou outras características funcionais (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 30).

Em um contexto de pandemia, mais do que nunca, ressalta o livro, o país precisa aprimorar o seu parque industrial, senão não terá como a economia nacional voltar a crescer. E não há outra forma, a não ser por meio do conhecimento sistemático, tecno-científico, sendo este o meio mais seguro de se combater o desemprego e a desigualdade social. É este, portanto, o objetivo do livro: apontar caminhos, tendo por base a inovação nos setores tecnológicos, científicos e gerenciais, para aqueles que realmente fazem ciência no Brasil. Para tanto, os organizadores resolveram partir da experiência vivida na UFMG.

O conceito de inovação é o pilar central do livro, considerando-a imprescindível para a sustentabilidade do capitalismo, ou seja, a competitividade entre as empresas. Neste rumo, mostra a imprescindibilidade das universidades na geração de saberes científicos, tecnológicos e culturais: As universidades, sendo o lócus de desenvolvimento tecnológico e de realização de atividades empreendedoras (ETZKOWITZ, 2013; ETZKOWITZ; ZHOU, 2008), e incentivadas à cooperação com o setor produtivo por meio da geração e da transferência de tecnologia e da formação de empresas spin-offs (GUERRERO; CUNNINGHAM; URBANO, 2015; ROESSNER et al., 2013), cada vez mais se tornam atores regionais relevantes (VALERO; VAN REENEN, 2019), fortalecendo suas ações no campo da construção de políticas públicas (RAPINI; BARBOSA, 2021, p. 30).

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Assim, seguindo o Marco Tecnológico nacional, a UFMG tentou investir em ciência e tecnologia, pois teria um ambiente normativo adequado para a geração de recursos e a inversão correta, catalisando os esforços da instituição em relação à melhoria do setor industrial pátrio e a concretização de uma Política Institucional de Inovação, que seja verdadeiramente incentivadora das relações da universidade com as empresas.

Para o presidente da CNPQ, Evaldo Ferreira Vilela, um dos autores do livro, o grande problema da implantação de uma estrutura inovadora no contexto tecnológico e científico nacional seria a falta de embasamento legal por parte dos responsáveis por gerir as instituições de produção e fomento de pesquisa: Um sério empecilho ao avanço da inovação no país é o pouco entendimento que têm os operadores jurídicos de nossas instituições sobre como se desenvolvem as atividades de ciência, tecnologia e inovação (2021, p. 23).

Vilela, para mudar tal contexto, faz um apelo: Clamamos por um melhor entendimento sobre as atividades de fomento e desenvolvimento da ciência e o aproveitamento de seus resultados por meio da transferência de conhecimento e de tecnologias, o que aqui se discute didaticamente. O mesmo se aplica às questões jurídicas relativas às atividades dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) 2021, p. 23).

Não é tarefa fácil, porém perfeitamente realizável. No entanto, logo em seguida, o próprio Vilela aponta algo talvez mais grave do que o desconhecimento do arcabouço jurídico, a mudança de mentalidade, pois o processo de inovação como um todo envolve dinamismo, constante aprendizado, gestão e planejamento, talentos altamente capacitados e o desenvolvimento de uma cultura própria, enraizada na noção de que o empreendedorismo inovador representa uma das mais valiosas alternativas a qualquer economia que proponha desenvolver-se em linha com as tendências globais, produzindo valor e benefícios à sociedade como um todo, por meio da aplicação amplamente difundida do conhecimento científico 2021, p. 23).

Por fim, o livro dá uma solução simples: a inovação deve vir por meio da propaganda, pois se existem pensadores inovadores que não publicam nem divulgam as vantagens da inovação, como esta poderá atingir e modificar a cultura nacional? Portanto, Vilela conclui: Para produzir essa cultura, é essencial que sejam compilados, publicados e divulgados os casos de sucesso e os relatos daqueles que se enveredaram por esse caminho e, nessa jornada, descobriram e compartilharam o valor de suas experiências, encorajando e inspirando seus semelhantes (2021, p. 23).

O mérito, portanto, está tanto na produção do saber científico quanto na divulgação dele, daí a importância de livros tais como o Inovação, Ciência, Tecnologia e Gestão A UFMG em perspectiva.


Sobre o autor
Elton Emanuel Brito Cavalcante

Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIR; Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Rondônia (2013); Licenciatura Plena e Bacharelado em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia (2001); Bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Rondônia (2015); Especialização em Filologia Espanhola pela Universidade Federal de Rondônia; Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela UNIRON; Especialização em Direito - EMERON. Ex-professor da rede estadual de Rondônia; ex-professor do IFRO. Advogado licenciado (OAB: 8196/RO). Atualmente é professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia - UNIR.

Informações sobre o texto

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