Enquanto a maconha ganha o mundo moderno.

O Brasil segue sendo a vanguarda do atraso

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O presente artigo é uma reflexão sobre os avanços da maconha pelo mundo e as questões de atraso na política de drogas no Brasil.

UMA ERVA NATURAL NÃO PODE TE PREJUDICAR

Assim dizia a canção do seminal grupo de rap-hardcore Planet Hemp em 1995. Quase trinta anos depois, o cenário mundial com relação a maconha mudou drasticamente.

Ao longo dos anos, de muitas pesquisas e muitas lutas social, o então vilão é considerado “porta de entrada” para os mais pedantes conservadores que por décadas travaram uma luta de demonização desta planta e contribuíram para o caos carcerário no mundo, hoje se rendem ao lucrativo mercado e soluções médicas oriundas da maconha descobertas ainda no século passado.

Países como Estados Unidos, o grande mentor da política de “Guerra às Drogas" pelo mundo, criada pelo conservador Richard Nixon no início da década de 1970, hoje celebra na maioria dos seus Estados a legalização para uso recreativo, um novo mote comercial explorado por grandes empresas e que tem um mercado lucrativo absurdamente pujante.

Vale destacar que, em Nova Iorque, a maior metrópole do mundo e um dos epicentros da economia global, após permitido o uso recreativo da droga, ativistas distribuíram gratuitamente maconha para pessoas que se vacinaram de COVID-19, algo inimaginável há cerca de 20 anos atrás.[1]

E não é apenas no uso recreativo que a maconha ganha seu destaque nos últimos anos. A planta é responsável pelo medicamento Canabidiol, que entre outros, ajuda em tratamentos relacionados a Parkinson entre tantas outras moléstias, além de possivelmente, ser a matéria prima para um dos medicamentos que auxiliam no combate à pandemia do novo Coronavírus, como mostram estudos recentes. [2]

É preciso pontuar, outro fator extremamente importante, os países que estão adotando tais avanços com relação às políticas de drogas, seguem tendo bons referências no número de prisões relacionadas ao tráfico de drogas, diminuindo o encarceramento em massa e evitando, que mais pessoas pobres, periféricas e negras adentrem os sistemas prisionais.

Esta é uma realidade global, e será certamente a tendência de todos os países modernos a adotarem tais políticas, tendo em vista não só dos avanços econômicos, mas pelo avanço social que acompanha todo este processo.

E o Brasil? Infelizmente em nosso país, seguimos sendo a vanguarda do atraso, ainda mais em tempos de Governo Bolsonaro, onde não só, seguimos na contramão do mundo nos tornando um “Estado Pária" como ainda por cima, criam-se inúmeras dificuldades para famílias que precisam importar o Canabidiol, mesmo que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tenha moderado as questões para tal solicitação.

O Brasil infelizmente, segue estacionado no fim do Século XIX e Início do Século XX

CONCLUSÃO

O debate com relação a descriminalização da Maconha, segue tímido e num horizonte muito distante da realidade brasileira. O Preconceito e a desinformação seguem ditando as regras por estas terras, mesmo que o mundo todo demonstre que sim, é possível mudar e ainda por cima, melhorar a vida de suas populações com experiências novas, como tem sido a legalização pelo mundo.

E o Brasil? O Brasil segue mudando para não mudar, segue sendo a velha engrenagem sem dentes, cada vez mais atrasada por uma política nacional obtusa, dirigida por um inepto na Presidência da República.

REFERÊNCIAS:

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[1] Maconha Distribuída Gratuitamente para quem já se vacinou de COVID-19 em Nova York. O Globo. 20 de abril de 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/maconha-distribuida-gratuitamente-para-quem-ja-se-vacinou-contra-covid-19-em-nova-york-24980416 Acesso em: 25/04/2021.

[2] Estudo indica que derivado da maconha é eficiente contra covid-19. UOL. 20 de junho de 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/07/16/estudo-em-ratos-indica-que-canabidiol-ajuda-no-tratamento-do-coronavirus.htm Acesso em 25/04/2021.

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Sobre os autores
Vinicius Viana Gonçalves

Possui Bacharelado em Direito pela Faculdade Anhanguera do Rio Grande (FARG), Pós-Graduação em Ciências Políticas pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), Pós-Graduação em Ensino de Sociologia pela Faculdade Única de Ipatinga (FUNIP), Pós-Graduação em Educação em Direitos Humanos e Mestrado em Direito e Justiça Social pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Também possui formação como Técnico em Comércio Exterior pela Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas (Rio Grande/RS), Tecnologia em Logística pela Faculdade de Tecnologia (FATEC/UNINTER). Como pesquisador, foi membro do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos (NUPEDH) e do Grupo de Pesquisa Direito, Gênero e Identidades Plurais (DIGIPLUS), ambos vinculados ao PPGDJS/FURG. Também atuou como pesquisador vinculado ao Programa Educación para la Paz No Violencia y los Derechos Humanos, no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos (Centro de Investigación y Extensión en Derechos Humanos) da Facultad de Derecho da Universidad Nacional de Rosario (Argentina), sob coordenação do Professor Dr. Julio Cesar Llanán Nogueira, com financiamento da PROPESP-FURG/CAPES.

Rodrigo da Silva Soares

O autor é graduado em Direito (FURG-RS) e Filosofia (UFPEL-RS). Pós-graduado em Direito Público (Unileya), Educação em Direitos Humanos (FURG-RS).

Mauricio Soldati de Souza

Advogado regularmente inscrito na OAB/RS, Experiencia de 18 anjos trabalhando em comercio exterior quando decidi que era hora de advogar. Direito aduaneiro é uma das minhas paixões, mas também escrevo sobre Relações de emprego e precarização que é minha atual linha de pesquisa.

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