Piada no palco

Leia nesta página:

Esse pequeno texto tem o proposito de trazer uma reflexão quanto a piada homofóbicas, que são vistas com naturalidade no meio social.

INTRODUÇÃO

A piada nada mais é que um texto cômico, elas por muitas vezes tentam causar o expectador, ouvinte ou leitor a risada, sempre com algo anormal, que cause confusão no nosso celebro, tal divertimento se encontra com a liberdade de expressão o par perfeito, abordar diversos temas que são tabu na sociedade, em Jean Santueul disciplina-se em latim que “castigat ridendo mores”, sendo através do humor que corrige-se os costumes, e critica-se os mesmos (ANGELI & PADUANO, 2007, p. 9).

São em situações do dia a dia que é ressaltada de forma cômica e preconceituosas as diferenças, já que não é possível rir de algo que você se identifica tão bem como um espelho não caricato de si mesmo, “o maior inimigo do riso é a emoção” e, ainda, “a indiferença é ambiente natural do riso” (BERGSON, 1983, p.7). Diante disso o indivíduo costuma ver no outro uma diversidade que não ver em si e com isso rir, mesmo que ofenda ao próximo, já que não se identifica com determinado grupo alvo de piada.


DESENVOLVIMENTO

A liberdade de expressão é um marco para toda sociedade democrática de direito e faz florescer ideias cada vez mais diversas e pluralizadas, nossa constituição a defende piamente, com limitação quanto ao anonimato no Art. 5º inciso IV, no inciso V - “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo…” há então, não uma limitação, mas sim responsabilizar-se-á os atos contra a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem, sendo assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral, presente no inciso X.

Diante disso é indispensável refletir que, a comédia pode sim ter sua liberdade protegida, porém isso não significa que será livre de represarias ao momento em que ferir a honra e a imagem de alguém.

Diante de tal aspecto e a evolução dos meios de comunicação e veiculação de mídias digitais, houve uma proliferação cada vez maior de modalidades diferentes da então comédia, no Brasil se fez popular o Stand Up, gênero americano em que o comediante conta histórias cotidianas de seu dia a dia e tenta improvisar muita das vezes com temas polêmicos, como gênero, ideologia, política e raça.

Diante de sua plateia, tais temas de grande debate político e geradores de atritos na sociedade são pratos cheios para os comediantes, em que para Sírio Possenti são “discursos profundamente arraigados e cujos temas são cruciais para uma sociedade” (POSSENTI, 2010, p.40).

Porém, piadas vistas como muito agressivas ou repetitivas são clichês ou sem graça, bem como: loira burra, baiano preguiçoso e gaúcho “viado”, as piadas para muitos grupos que são pertencentes ao texto cômico as consideram além de mal gosto, como um ultraje, em que é ofendido por apenas escolher uma orientação sexual.

Com isso, tendo suas ações como diferentes e fora da normalidade heteronormativa, em que retrata que o “jeito certo” é a forma em que a pessoa hetera agiria, sendo o homem como o dono da virilidade e a mulher ter a característica da sensibilidade.

Já em uma relação homoafetiva, as mulheres lésbicas têm características muito diversas, em que algumas se vestem de forma mais masculinizada e outras de forma mais sensível, e muita das vezes essas características são alvo direto de piadas.

A Homofobia que de acordo com Borrillo (2009) a homofobia é a atitude de hostilidade para com as pessoas homossexuais. Ainda que, segundo o autor, seu primeiro elemento seja a rejeição irracional, ou mesmo o ódio em relação às pessoas homossexuais, a homofobia é uma manifestação arbitrária que consiste em qualificar o outro como “contrário”, “inferior” ou “anormal” - sendo este indivíduo (des)qualificado e desta forma colocado em um local fora do universo comum dos humanos.

Sendo possível mencionar o caso de Thammy Miranda, então figura pública que é alvo de diversas piadas em torno de sua vida sexual e sua mudança de sexo, uma dessas piadas enfatiza que a sociedade não aceita e nem a reconhece como homem, e afirma que ele não tem o órgão masculino, com a seguinte frase cômica “O biquíni eu não sei quanto custa, mas a sunga tá “100 pau”.”

Piadas como essa são homofóbicas, diante do teor de tentar diminuir uma pessoa pelo que ela é, o carácter ofensivo é tanto, que são virais nas redes sociais “memes” (publicações) de igual ou pior que o conteúdo apresentado anteriormente.


CONCLUSÃO

Jean Wyllys defende que a liberdade do humor tem limites e que, o humorista não deve apenas se apoiar no riso do público, mas ter uma visão crítica da sociedade. Fazer uma piada de conteúdo preconceituoso, além de não realizar um humor autêntico e transgressor, faz com que o humorista assuma que o mundo é desigual e se comprometa a rir disso (WYLLYS, 2012).

Em conformidade aos fatos mencionados anteriormente e com o artigo 5º da constituição e inciso X, a liberdade de expressão tende a trazer com ela responsabilidade a quem a utiliza, e sanções aos que depravam de sua função para agir de forma a ferir a moral e dignidade da pessoa, e a comédia como dito por Jean Santueul é instrumento para corrigir-se costumes, porém seu uso em forma de indecoro caracteriza uma forma retrógrada como mencionado por Jean Wyllys.


REFERÊNCIA:

ANGELI, C. D.; PADUANO, G. O cômico. Tradução: Caetano Waldrigues Galinho. Curitiba: UFPR, 2007.

Fique sempre informado com o Jus! Receba gratuitamente as atualizações jurídicas em sua caixa de entrada. Inscreva-se agora e não perca as novidades diárias essenciais!
Os boletins são gratuitos. Não enviamos spam. Privacidade Publique seus artigos

BERGSON, H. O riso: ensaio sobre a significação do cômico. Tradução: Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

BORRILLO, D. A homofobia. In: LIONÇO, T.; DINIZ, D. (orgs.). Homofobia e Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: LetrasLivres/EdUnB, 2009.

POSSENTI, S. Humor, língua e discurso. São Paulo: Contexto, 2010.

WYLLYS, J. O riso dos outros. Brasil: TV Câmara, 2012. (Documentário)

Assuntos relacionados
Sobre o autor
Vinicius de Oliveira Santos Silva

Sou apenas um estudante de direito, tentando a cada dia melhorar, o tempo é quem amadurece a uva, mas é a dedicação à videira que catalisa o sabor do vinho.

Informações sobre o texto

Este texto foi publicado diretamente pelos autores. Sua divulgação não depende de prévia aprovação pelo conselho editorial do site. Quando selecionados, os textos são divulgados na Revista Jus Navigandi

Publique seus artigos Compartilhe conhecimento e ganhe reconhecimento. É fácil e rápido!
Publique seus artigos